quente, sim; verde e quente
Estou há dias com os olhos inundados. Pensando bem, estou há semanas chorando. Não é tristeza, isso sei, mas não sei que nome tem. Estou há quase um mês, todo dia, lembrando da madrugada em que eu despertei de um sonho engraçado, no qual eu gargalhava, e desse sonho eu acordei gargalhando. Estava tão escuro o quarto, e o som do meu riso (alto, forte, solto) fez o Andre acordar, sem saber dizer se eu ria ou chorava, e eram as duas coisas juntas. Penso nessa madrugada e meus olhos ficam inundados. Que bonito é isso de sermos gente, habitadas por coisas que não sabemos, e de termos as palavras.
Estou há dias escrevendo mensagens para pessoas que amo, que se fizeram presentes, que quero ter mais perto. Escrevo e meus olhos de novo se inundam, pensando nas palavras que podemos gritar e sussurrar, lembrar e esquecer, descrever esse mundo e inventar tantos outros. Escrevi pouco em 2021, menos do que eu gostaria, porque estou muito ocupada tateando outras formas de existir, e agora penso na Nataly, que ontem me disse que viver e escrever são a mesma coisa, e eu nunca tinha encontrado palavra pra isso, mas é como sinto, e me dá de novo vontade de chorar, não de tristeza, não sei que nome tem. Se vida é inscrição, e penso em carne, e na palavra que funda a gente, vida é também criação, nos tantos outros gestos que inventamos para além dos que nos foram dados.
O Novo Ano taí, agora mesmo já é, e nasce faminto.
Feliz Todo Minuto!
(escrevo pensando no Natal na barca, da minha xará Lygia, e nessa sensação que me acompanhou ao longo de todo o ano que, dizem, finda hoje. Um espanto tremendo, caramba, de ver que na vida cabe tanto mais do que os contrários que querem vencer uns aos outros)